sexta-feira, fevereiro 19

O ENTRUDO DA MINHA INFÂNCIA

  O Entrudo  não assume grande relevância, aqui. É no domínio gastronómico que a tradição perdura, tudo o mais se diluiu no tempo.

                         BRINCADEIRAS DE CRIANÇA NO ENTRUDO

   Lembro-me de quando era criança, o costume de apanhar bolhacas, ou bogalhas, para pregarmos partidas de Entrudo.Como as portas nunca se fechavam, nós abria-mo-las, e despejava-mos  as bolhacas, e fugia-mos para não descobrirem quem éramos.

                        CASAMENTOS
Outro costume que recordo, ainda que muito vagamente , é o dos casamentos: eram casados todos os  solteiros da aldeia, mesmo os de idade mais avançada, e era-lhes atribuído um dote, sempre com um cunho satírico, relacionado com um facto , ou uma característica dos intervenientes. Estes casamentos eram feitos pelos rapazes que reuniam previamente e sorteavam os pares. Eram anunciados durante a noite de terça para quarta-feira, munidos de grandes funis,ou embudes, que funcionavam como amplificadores de voz, para melhor serem ouvidos pelas raparigas, que aguardavam  curiosas para saberem quem é que lhes tinha calhado.
   À meia-noite , uma voz erguia-se , rasgando o gelo e o silêncio da noite:
   _Olá companheiro!
   _ Olá camarada!
   _ Temos um casamento a fazer!
    _E quem há-de ser?
   _ Fulano tal ( e era dito um nome ).
   _ E com quem há-de ser?
   _ Há-de ser, há-de ser...(.e lá surgia o nome da rapariga)
  _ E que lhe havemos dar de dote?
  E lá era proclamado o dote em  jeito de brincadeira. Esta  lengalenga prolongava-se na noite , até serem casados todos os solteiros da aldeia.
  No dia seguinte , os rapazes mais atrevidos, e a quem lhes tinha calhado raparigas mais do seu agrado, lá se dirigiam à sua procura para lhes darem um abraço.
               OS CAMINHOS

  No dia de Entrudo, logo de manhã , o toque da sineta chamava todos os homens para colaborarem no arranjo dos velhos caminhos rurais.
   Era à volta do velho e frondoso olmo, que se erguia no centro da praça, que se reuniam e aí decidiam quais os caminhos que necessitavam mais prementemente  de arranjo.

             GASTRONOMIA
 As casulas e a batata cozida, serviam e servem de acompanhamento às orelheiras , aos pés e aos bulhos e  continuam a assumir um papel de  destaque nas mesas da aldeia no dia de Entrudo.

  
                    
 

1 comentário:

helen cosac disse...

Lí que no Brasil, carnaval chamava-se entrudo na época da chegada dos Portuguêses. Aqui essa festa não tem nenhum domínio gastronômico.

Achei muito curiosa a estória dos casamentos.Principalmente pela festa
Em cidades pequenas no interior do Brasil existe o costume de casarem as pessoas mais velhas, viuvas ou solteiras, arranjado pelos filhos ou parentes próximos.